domingo, 15 de maio de 2016

Ultrassonografia e pancreatite em pequenos animais

A avaliação ultrassonográfica do pâncreas deve fazer parte de todos os exames abdominais, mesmo quando não há suspeita de alteração neste órgão.

O pâncreas normal é fino, amorfo e é pouco distinto do mesentério adjacente. Ele é dividido em corpo, lobo direito e lobo esquerdo.  O corpo fica caudal a região do piloro, craniomedial ao rim direito e ventral a veia porta. O lobo esquerdo sai do corpo e passa dorsocaudal ao antro do estômago e segue pela linha média. Durante o exame ultrassonográfico, ele costuma ser visto na região triangular que se forma entre o estômago, baço e rim esquerdo. O lobo direito sai do corpo e segue dorsomedial ao duodeno, ventrolateral à veia porta e ventral ao rim direito. Para entender melhor, olhem a ilustração com a localização anatômica e as imagens ultrassonográficas.

Ilustração da localização do pâncreas e das imagens ultrassonográficas do lobo direito e esquerdo.


O pâncreas é homogêneo e isoecogênico ou levemente hiperecogênico ao fígado. Em cães, o lobo direito é mais fácil de ser visualizado e pode medir de 1 a 3 cm de largura (1 cm em cães da raça Beagle). Em gatos, o corpo e lobo esquerdo são mais fáceis.  Em gatos, a espessura normal média é de 5,4 mm (lobo esquerdo), 6,6 mm (corpo) e 4,5 mm (lobo direito).

Lobo direito do pâncreas (seta) dorsomedial ao duodeno.

Lobo esquerdo do pâncreas (seta) seguindo pela linha média, dorsal ao baço (no triângulo entre baço, estômago, rim esquerdo/cólon).


A pancreatite é uma das principais afecções do pâncreas. Na pancreatite aguda, o pâncreas fica aumentado, irregular, hipoecogênico. Um pouco de efusão focal pode ser vista e aumento de ecogenicidade na gordura adjacente. Na maioria das vezes os cães sentem dor no momento do exame. Em algumas situações, pode ser que nenhuma alteração significativa seja vista ultrassonograficamente e isso não pode ser usado como regra para descartar pancreatite. Se isso ocorrer, o exame pode ser repetido após 2-4 dias. Exames repetidos também podem monitorar o tratamento.

Na pancreatite crônica, o pâncreas fica reduzido, com ecogenicidade  mista, pode ter aspecto nodular e pode haver mineralização e cicatrização do parênquima. O ducto pancreático pode ficar irregular devido à fibrose periductal.

Os sinais mais comuns são vômito, diarreia, anorexia, perda de peso (mais comum em gatos), febre e dor abdominal. Um estudo apresentado no ACVIM em 2014 mostrou uma correlação entre sinais clínicos e região afetada nos achados ultrassonográficos. Eles encontraram uma diferença estatística relacionando vômito com alteração no lobo esquerdo e diarreia com alteração no lobo direito (possivelmente pela proximidade do lobo direito com o duodeno e do lobo esquerdo com o estômago).

Outras afecções do pâncreas ficam para outro post ;-)

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