Esse mês, ou melhor, ontem (abril/2017), foi publicado um
artigo muito interessante na revista “Journal of Small Animal Practice” (v58)
sobre úlceras gastrointestinais em cães. É um assunto interessante pra mim
porque tenho visto cada vez mais casos na minha rotina.
A úlcera é a ausência focal da mucosa gástrica ou intestinal.
As principais causas de úlcera intestinal em cães são: administração de
fármacos anti-inflamatórios não esteroidais e esteroidais (corticóides),
ingestão de corpos estranhos, exercício físico intenso, neoplasias,
doença intestinal inflamatória, doença hepática, uremia, dentre outras.
Os sinais podem variar desde os mais inespecíficos como
inapetência, letargia, fraqueza, até abdomen agudo com muita dor, distensão
abdominal, vômito. Em casos de suspeita de peritonite, esses pacientes são
candidatos a cirurgia de laparotomia exploratória de urgência.
Para detecção de úlceras por radiografia, um dos sinais que pode causar suspeita é a
presença de gás livre na cavidade (pneumoperitôneo) e para ver a úlcera em si,
seria necessário o uso de contrastes (lembrando que o bário é contraindicado quando existe a suspeita de
perfuração e o exame radiográfico poderia retardar um diagnóstico mais rápido). A ultrassonografia é o método mais utilizado (a tomografia
computadorizada também pode ser utilizada, mas pelo menos na minha rotina ainda
está longe da realidade).
Ultrassonograficamente, a úlcera é vista como um
defeito na mucosa ao centro de uma área espessada na parede do estômago ou
intestino contendo ecos (de tamanhos variados) que possivelmente representem bolhas de gás
que se infiltram no defeito da parede.
Um dado importante é que líquido livre peritoneal pode ser
encontrado tanto em úlceras não perfuradas como as perfuradas (mais comum na
última) e gás livre somente nas perfuradas. Nos casos em que for possível
coletar o líquido livre guiado por ultrassonografia, a presença de células
brancas com bactéria intracelular é diagnóstica de peritonite séptica (claro,
nem toda peritonite séptica é causada por úlceras – a união de vários dados
clínicos, de imagem e laboratoriais é imprescindível). Também vale lembrar que
a ecogenicidade do líquido livre NÃO é diagnóstica de peritonite, já que pode
ser hiperecogênico OU anecogênico na peritonite).
Aos apaixonados por ultrassonografia como eu, recomendo a
leitura do artigo na íntegra. Muito bom!
Abaixo registro alguns casos que tenho acompanhado. As suspeitas de úlcera gástrica e/ou
intestinal não foram confirmadas por cirurgia, endoscopia ou necropsia.
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Paciente canino com hematemese (vômitos com
sangue) e histórico de ingestão de diclofenaco (anti-inflamatório não recomendado para cães). A imagem ultrossonográfica mostra área espessada, com descontinuidade da parede intestinal (seta branca) e vários pontos hiperecogênicos sugestivos de bolhas de
gás em parede (setas amarelas).
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Paciente canina com vômito e diarréia com
sangue. Na imagem de cima, porção do cólon menos afetada e abaixo,
irregularidade da parede do cólon com pequenos pontos hiperecogênicos (bolhas de gás) permeando
a parede.
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Paciente canina com perda de peso. Nessa imagem
do estômago, observa-se uma perda abrupta da delimitação das camadas da parede. Exames de sangue evidenciaram
doença renal e uremia.
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Paciente canino com vômitos e muita dor
abdominal. Na ultrassonografia, estômago com área de desestruturação das
camadas parietais, com erosão e presença de gás.
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Paciente com dor abdominal e
inapetência. Na ultrassonografia,
espessamento focal e nodular da parede do estômago causando área de defeito em
mucosa.
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