O peritônio é a membrana que recobre os órgãos abdominais e
ele tem uma pequena quantidade de fluido que lubrifica e reduz a fricção. O
fluido normal é claro a levemente amarelado, com densidade menor que 1,016;
proteína (2g/dL – basicamente albumina); 2000-2500 cel/ml – 50% macrófagos; sem
fibrinogênio ou fibronectina.
A efusão abdominal nem sempre é percebida no exame físico ou
radiográfico. A ultrassonografia abdominal é um método sensível para a
identificação de pequenas quantidades de fluido intra-abdominal. Após
identificação da presença de líquido, pode-se realizar abdominocentese guiada
por ultrassonografia para identificação do tipo e, possívelmente, da origem da efusão.
O fluido coletado deve ser colocado em tubos com EDTA (tampa
roxa) e tubo sem anticoagulante (tampa vermelha) para caso de necessidade de avaliação
microbiológica. Se o fluido não vai ser avaliado imediatamente, é interessante
realizar um esfregaço no momento da coleta e enviá-lo com os tubos ao laboratório de escolha.
As carcterísticas físicas do fluido serão avaliadas (transparência, turbidez, cor, odor,
coágulos, fibrina, pH, densidade). A quantidade de proteína é analisada no
supernadante após centrifugação. A contagem de células pode ser feita por
diferentes métodos.
O fluido é classificado em transudato,
transudato modificado ou exsudato.
Os transudatos
tem pouca proteína e poucas células. Efusões transudativas normalmente ocorrem
por estase venosa (insuficiência cardíaca congestiva), insuficiência hepática,
síndrome nefrótica e alguns casos de neoplasia.
Transudatos
modificados ocorrem quando o aumento da pressão causada pelo transudato causa
morte de células mesoteliais e aumento do número de células fagocitárias (ou
seja, um transudato que ficou tempo suficiente para causar inflamação).
O exsudato tem
mais proteínas e alto número de células nucleadas, geralmente por
inflamação – mas hemoperitônio e quiloperitônio também são classificados como
exsudato.
A avaliação citológica do líquido vai identificar qual o tipo
de célula predominante e se há presença de células neoplásicas ou agentes
infecciosos.
Outro dado que pode ser importante é o gradiente de albumina
soro-ascite. Se faz a subtração da concentração de albumina da ascite e do
soro. As ascites relacionadas à hipertensão portal (ex. cirrose, insuficiência
cardíaca congestiva) tem gradiente maior ou igual a 1,1 g/dL e as relacionadas
com pressão portal normal (pancreatite, síndrome nefrótica, ascite biliar,
obstrução intestinal, entre outros) menor que 1,1 g/dL.
Outras análises podem ser realizadas (ex. concentração de creatinina ou lipase, entre outros).
As principais causas de líquido livre na cavidade abdominal incluem ascite (por insuficiência
cardíaca ou cirrose), peritonite séptica, peritonite asséptica, hemoabdômen,
uroabdômen, pancreatite, peritonite biliar, efusão quilosa, neoplasia, entre
outros.
Abaixo, alguns exemplos de imagens ultrassonográficas em diferentes situações em que podemos encontrar líquido livre abdominal em cães e gatos.
Presença de líquido livre. Observar o artefato de refração na porção cranial da bexiga (não confundir com ruptura de bexiga). |
Paciente canino com hemoperitônio confirmado após abdominocentese. |
Paciente canino idoso com ascite por insuficiência cardíaca congestiva. |
Paciente canino com alterações bioquímicas e de imagem compatíveis com insuficiência hepática. |
Paciente canino com uroabdômen por ruptura da bexiga (no centro da imagem, pouco repleta e com parede espessada). |
Paciente felino com peritonite séptica. Na seta observa-se a agulha no momento da abdominocentese. |